24 de jun. de 2009

Primeira Página por Ailton Medeiros

Leitor compulsivo, entrei à madrugada lendo "Os Melhores Jornais do
Mundo", do jornalista Matias M. Molina.

O livro é um catatau de 675 páginas.

São perfis de 17 dos principais jornais do mundo. Dois deles foram
fundados no século XVIII, onze no século XIX e quatro no século XX.

O espanhol "El País, fundado em 1976, é o caçula da turma. Os mais
antigos são os ingleses "The Times" (1785) e "The Guardian" (1821).

Estão lá o alemão "Neue Zurcher Zeitung", os americanos "New York
Times", "The Washington Post" e "Los Angeles Times", os franceses "Le
Monde" e "Le Figaro", o italiano "Corriere della Sera", os japoneses
"Asahi Shimbun" e "Nihon Keizai Shimbun", entre outros.

Quais os critérios para se avaliar uma publicação?

Molina cita a revista "Time" que atribui como característica de um
jornal de qualidade sua preocupação com a comunidade.
"Um bom jornal diário tem de servir de consciência, de guardião e de
guia dessa comunidade", escreve.

"Também precisa ter uma curiosidade universal e fazer com que seus
leitores participem dela". Ou, nas palavras do dramaturgo americano
Arthur Miller, um bom jornal é uma nação falando para si mesma.

Molina conta histórias que engrandecem algumas publicações em
detrimento de outras.
Uma delas:

Quando Harrison Salisbury, do "New York Times", escreveu de Hanói que
a aviação americana tinha atingido populações civis, o "Washington
Post" saiu em defesa do bombardeio e acusou seu concorrente de estar à
serviço de Ho Chi Min, o líder do Vietnã do Norte.

Dias depois, as informações de Salisbury foram confirmadas pelo
próprio governo e também pelo "Post" que esqueceu de pedir desculpas
pelas relações incestuosas com o goveno Lyndo Johnson.

Katharine Graham, a toda poderosa dona do "Post", era defensora da
manutenção das tropas americanas no Vietnã. Achava, como a maioria da
imprensa da época, que a fronteira dos Estados Unidos estava no rio
Saigon.

Molina também conta episódios nada edificantes para a história do "New
York Times".

Nos anos de chumbo da era macartista, na década de 50, o jornal
demitiu dois jornalistas por se recusarem a depor perante o comitê do
Senado.

Mas vale ressaltar que o "Times" não apenas recusou transferir do
Vietnã o correspondente David Halberstam a pedido de John Kennedy,
como também cancelou suas férias para que o governo não achasse que o
jornal estava cedendo à pressão do presidente. (Halberstam ganharia
depois o Prêmio Pulitzer com suas reportagens sobre o conflito no
sudeste asiático).

Os republicanos, nesse terreno, não são muito diferentes dos democratas.

Molina relata uma reunião de Bush com Arthur Ochs Sulzberger Jr.,
"publisher" do "Times", na Casa Branca, em dezembro de 2005.
Bush não queria que o jornal publicasse que a Agência de Segurança
Nacional tinha instalado escutas clandestinas no país sem autorização
da Justiça.

A notícia saiu uma semana depois e teve ampla repercussão internacional.

Como resultado, o Senado não aprovou a prorrogação do Patriot Act e
Bush acusou o "New York Times" de "traidor" e "desleal".

Recheado de informações, "Os Melhores Jornais do Mundo" é leitura obrigatória.

Vamos, leitor hipócrita, tire a bunda da areia.

A vida não é só praia, cerveja e sol.

fonte: http://www.ailtonmedeiros.com.br/primeira-pagina-3/2008/01/17/