1 de out. de 2009

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"Tenho orgulho de ser jornalista", afirma Gay Talese

"As pessoas esquecem que os jornais vão e vêm. O jornalismo, não. As pessoas vão sempre precisar de notícia e informação. Sem informação não se administra um negócio, não se vende ingresso para o teatro, não se divulga uma política externa.

 Todos os dias, nos jornais das cidades grandes ou pequenas, repórteres vão à rua para fazer o que não é feito por mais ninguém. De todas as profissões, se um jovem estiver interessado em honestidade e não estiver interessado em ganhar muito dinheiro, eu aconselharia o jornalismo, que lida com a verdade e tenta disseminar a verdade. 

Há mentirosos em todas as profissões, inclusive no jornalismo, mas nós não os protegemos. Os militares acobertam mentirosos. Os políticos, os partidos, o governo, todos fazem isso. O escândalo do Watergate é uma crônica de acobertamento. Os jornalistas não agem assim, não toleram o mentiroso entre eles. Acho uma profissão honrosa, honesta. Tenho orgulho de ser jornalista."

Intrigas de Estado: jornalismo pra quê? Por Patrício Junior

De um lado, um jornalista experiente de um dos maiores jornais do mundo. Do outro, uma jovem blogueira responsável pelo braço on-line do jornal. No centro, um escândalo que envolve um promissor senador da república. Na tela, a crua diferença entre o jornalismo responsável e o jornalismo banal. Crua a ponto de você sentir saudades da época em que comentários eram cartas e audiência eram edições vendidas. Esse é um resumo de "Intrigas deEstado", que coloca Russel Crowe, Ben Affleck, Helen Mirren e Rachel McAdams num longa que tem gostinho de Oscar. De melhor filme.

A trama de "Intrigas de Estado" começa com dois crimes aparentemente sem relação. De um lado da cidade, um sem-teto é assassinado entre latas de lixo. Do outro, a assessora de um senador morre no metrô. Aos poucos, a investigação da imprensa liga esses dois crimes e aponta para uma grande conspiração envolvendo senadores, empresas e o Departamento de Defesa. Uma verdadeira bola de neve que desaba completamente na mesa dos dois jornalistas em questão.

A grande trama do filme, porém, é outra. Esta, muito mais burilada. O filme trata do fim do grande jornalismo com a chegada da internet. E vemos, ao longo de muitas reviravoltas de tirar o fôlego, a luta do personagem de Russel Crowe em não sucumbir à notícia fácil dos blogs e apurar a verdade até o fim. Até chegar ao supra-sumo da verdade.

Coincidência ou não, esta semana Gay Talese, grande nome do new journalism, deu uma entrevista à Veja em que fala um pouco sobre essa nova realidade da imprensa. Segundo ele, a internet tende a reduzir nossa visão de mundo ao responder diretamente nossas questões sem dar margem ao acaso. Não é um panorama a ser ignorado. E o filme trata dessa questão de uma forma muito inteligente: o que poderia ser apenas um crime sem importância, perdido entre as centenas de atualizações diárias de um portal jornalístico, acaba se revelando o furo jornalístico do ano. Tudo porque um profissional se empenha em fazer algo cada vez mais raro hoje em dia nas redações: apurar o fato.

O filme não puxa o lado pro jornalismo antigo, nem defende o jornalismo on-line. Apenas nos mostra uma realidade: na internet, não há grandes reportagens; ao passo que nos jornais impressos está cada vez mais difícil fazer esse tipo de trabalho. Uma fala da editora do jornal, interpretada grandiosamente por Helen Mirren, explica essa controvérsia: "Isso é uma notícia; o desmentido disso é outra notícia; a repercussão do desmentido é mais uma notícia; e tudo isso significa milhões de edições vendidas". Ao contrário do que se possa imaginar, Helen Mirren não interpreta uma vilã. É apenas uma editora desesperada por manter um negócio que não se mostra mais lucrativo. Uma dura realidade global.

"Intrigas de Estado" é muito mais que um filme de suspense e ação. Mas se você quer apenas um filme de suspense e ação, ele cumpre perfeitamente o papel. Tem seqüências de tirar o fôlego, reviravoltas impressionantes e um roteiro muito bem amarrado. Se depois do filme você quiser pensar um pouquinho, vai perceber que a cena inicial casa perfeitamente com a cena final. E o filme poderia se resumir a estas duas cenas: não fosse um jornalista que resolveu cumprir seu dever de apurar a verdade.

Fonte: http://colunas.digi.com.br/patricio/intrigas-de-estado-jornalismo-pra-que/.