1 de mai. de 2008

Uma vida dedicada à arte gráfica

Um menino negro corre empunhando a bandeira do Brasil. As estrelas dos 27 estados caem e se espalham pelo chão iluminando o caminho percorrido pelo garoto. Ao fundo aparecem colagens de obras gráficas feitas nos anos do regime militar. Todo o conjunto é obra do artista gráfico Elifas Andreato que ministrou aula magna na Unisanta para os alunos do curso de Produção Multimídia, na quinta-feira, 24 de abril.

Por meio da animação, exibida na aula e feita para a abertura da minissérie Queridos Amigos, Andreato mostrou um panorama de sua carreira. Dos primeiros anos como chargista do jornal dos operários quando trabalhava como aprendiz de torneiro mecânico para uma fábrica de fósforo até a luta contra a ditadura em que ilustrava a idéia dos jornalistas contrários ao regime da época. No mesmo período fez capas de disco para os cantores e compositores da música popular brasileira(MPB). Naquele momento, a MPB foi porta voz das insatisfações impostas pelo regime militar.

O artista, que se considera um cidadão brasileiro, um profissional de imprensa e um desenhista gráfico, ressaltou a importância de ser coerente com obra que se realiza e ter humildade ao ilustrar trabalhos de outros autores, como capas de discos e livros, ilustrações e cartazes.

“Quando comecei a trabalhar como artista gráfico eu parti de um princípio simples, seria o sujeito que traduziria para o papel um convite para que as pessoas conhecessem obras muito maiores que a minha, e esta consciência me trouxe uma enorme responsabilidade, que é de traduzir corretamente o conteúdo das coisas, porque ninguém ouve um disco ou lê um livro sem antes ver a capa, e também para se ir assistir a uma peça de teatro, primeiro se vê o cartaz”.

Andreato falou sobre o processo criativo em que para expressar uma grande obra é preciso conhecê-la profundamente. Isso marcou a sua forma de buscar um contato não só com a obra, mas também com o autor. Nas capas de discos, o artista retratou momentos particulares dos compositores. Um dos casos é a capa que mostra o músico Paulinho da Viola, com lágrimas nos olhos, oferecendo um buquê de flores. A imagem ilustrou o disco Nervos de Aço. De forma sutil o ilustrador fazia referência à separação do compositor.

Sendo um artista experiente, Andreato disse que ainda sente uma certa insegurança ao realizar alguma encomenda. “Com o passar do tempo tudo fica mais difícil porque a tua exigência é maior e o que as pessoas esperam também é maior. Não se iludam vai ser difícil a vida toda”.

Dois elementos são marcantes na obra de Andreato. Personalidades com rosto de palhaço e estrelas. Para o artista, as estrelas representam a esperança, o inalcançável e o nascimento. Uma lembrança da infância no interior, onde o céu noturno sempre estrelado o fazia colocar no papel na tentativa de alcançá-las. O palhaço para Andreato representa um dos objetivos da arte. “O palhaço se entrega aos outros sem esperar nada em troca, apenas o sorriso”.