16 de nov. de 2007

Um boêmio no céu’ retrata a história de Catulo da Paixão Cearense

(Matéria publicada no jornal Metrópole, edição de 3 a 9 de novembro de 2007)


Após morrer, o poeta Catulo da Paixão Cearense encontra São Pedro, conta seus pecados, defende a vida artística e fala de seu amor pela natureza na peça “Um boêmio no céu”. O espetáculo faz parte de um projeto de inclusão social, por meio do ensino de teatro para deficientes visuais, desenvolvido pelos atores voluntários Fátima Queiroz e Ivan Mativichuc, junto ao Instituto Braille de Santos.

Os personagens são representados por deficientes que também tocam violão e pandeiro. A peça, de autoria do poeta Catulo, e adaptada por Mativichuc, conta com nove integrantes, e intercala passagens da vida do compositor com episódios contemporâneos ligados à destruição do meio ambiente, guerras, escândalos políticos e corrupção.

Canções de festas juninas e do próprio autor também são apresentadas no espetáculo. Na peça, a morte de Catulo ocorre no dia de São Pedro. O poeta é recebido com um sermão ao chegar no céu festejando e alega que na Terra comemora-se o dia do santo.

Aprendizes - Vandernilson Nogueira Chaves, que tem quatro por cento de visão, faz o papel do poeta Catulo, numa interpretação natural, como se fizesse teatro há muito tempo. Ao estudar a peça, ouvir diversas vezes a gravação e repetir o texto, ele diz ter conseguido desenvolver as características do personagem. “Eu faço o que todos os atores deveriam fazer, procuro vivenciar o personagem da maneira mais intensa. O Catulo, como boêmio, é uma figura que me dá asas para eu extrapolar na peça”.
O aprendizado do teatro funciona para Chaves como uma terapia, uma forma de extravasar tensões e se divertir. “O teatro é uma forma de botar para fora. Há situações em que eu extrapolo e me libero no personagem”.

O anjo mensageiro é interpretado por Iracema Pessoa de Lima, que visita a Terra e, após quebrar a asa ao acompanhar as agruras do mundo, faz um relatório para entregar ao Criador, com uma crítica à sociedade. “Na terra, as artes estão morrendo aos poucos e os homens, sem Deus, estão ficando loucos”. Ela decora o texto pelo sistema braille.
O espetáculo conta ainda com o auxílio de “anjos videntes” que orientam o posicionamento dos atores durante a apresentação.

Projeto - De acordo com Mativichuc, o projeto começou como uma oficina de expressão corporal para melhorar a fala e trabalhar a parte física e mental. Ele explica que os deficientes visuais são introvertidos e, com o teatro, melhoram o relacionamento interpessoal, inclusive com a família. “Eles têm uma capacidade de improvisação muito boa. Ao se apresentarem no palco, decoram a quantidade de passos da cena. A gente aprende muito com eles”.

Para Fátima, diretora da peça, o teatro reúne elementos de várias artes, além de ensinar ritmo e música. “Os deficientes têm interesse em cultura, em uma boa peça, e, na maioria das vezes, ficam isolados em casa. Com o projeto, trazem a família e passam a interagir mais”.

Instituto - Trabalhar a parte cultural e social é um dos objetivos do Instituto Braille de Santos. A presidente da instituição, Ireni Souza de Oliveira, diz que “o teatro ensina por meio da vivência e da experiência. Os deficientes se expressam melhor e não sentem vergonha por falar o que pensam sobre as coisas”, conclui.

Nos cinco anos de existência o grupo já apresentou as peças: “Ensaio de Natal”, “Uma Família na Roça” e “A Linda, Meu Bem”.
Mais informações sobre o instituto e sobre a peça podem ser obtidas pelo telefone 3234-4815.

13 de nov. de 2007

Mistura que dá Samba

(Matéria publicada na revista Viração - n° 36 – Setembro de 2007)

Por Leonardo Leal e Marta Molina

Foi com os acordes da canção Maracatu Atômico que o músico, compositor e escritor, Jorge Mautner, e seu parceiro no violão, Nelson Jacobina, iniciaram a perfomance com os integrantes da banda Querô, do Instituto Arte no Dique. A interação, que não havia sido ensaiada, aconteceu no galpão do Instituto Arte no Dique, na Zona Noroeste, região da periferia de Santos (SP).

Mautner homenageou o amigo e dramaturgo Plínio Marcos com uma canção de Assis Valente, e com seu violino executou alguns sambas, além de composições de sua autoria como: Samba dos animais, Homem Bomba e Morre-se Assim.

“Muito bom, uma alegria e uma emoção muito grande”, diz o violonista Nelson Jacobina sobre a apresentação na Baixada Santista

Mautner e Jacobina desenvolvem um projeto de apresentações e palestras em Pontos de Cultura espalhados por todo o Brasil. Nesse projeto fazem contatos com a cultura local e dividem experiências. “Cada um tem autonomia de mostrar a sua diversidade”, ressaltou o compositor sobre a iniciativa do Ministério da Cultura. “Há um ano e meio a gente está fazendo esse projeto. Em março do ano passado, eu e o Jorge fomos ao Nordeste, tocamos com os rabequeiros do Norte, músicos de Goiás e Minas Gerais”.

“O Brasil tem uma cultura inata tremenda, é só você despertar, dá um sopro que cresce além das dimensões que você calculou, planejou”, explicou Jorge Mautner, que considera a arte como uma das formas de se reduzir a violência e desigualdade do País. “Se você der um mínimo de incentivos aos jovens, eles se transformam de maneira total.”

Para os integrantes da banda Querô, o projeto deve continuar porque funciona como uma aprendizagem. “As interações com os Pontos de Cultura são muito interessantes. Não só o Jorge Mautner, outros artistas também têm que participar. Isso para os alunos é um aprendizado, tem que continuar”, disse Ubiratan dos Santos, professor de percussão, que está há quatro anos participando dos projetos do Instituto Arte no Dique e faz parte do grupo Olodum.
”Foi uma experiência que a gente ainda não havia tido. Tocamos músicas diferentes que a gente ainda não havia colocado no repertório”, afirmou a integrante Liliana Lima, de 14 anos. Os integrantes da banda Querô ensaiam três horas diariamente. A percussionista Juliana Rosa, de 15 anos, também se emocionou com a experiência. “Foi muito bom, vou lembrar para o resto da vida”, disse.

Para a gestora do convênio do Ponto de Cultura, Thaís Polydoro Ribeiro, alcançou-se o objetivo proposto de proporcionar o encontro entre o artista e a comunidade. “Trazer acesso à cultura, às coisas que a população daqui não tem no seu cotidiano, é o que me nutre, é o que me faz buscar esse tipo de parceria dentro dos Pontos de Cultura”.

11 de nov. de 2007

Uma conversa com o zagueiro Antônio Carlos

(matéria publicada no jornal metrópole, edição de 27/out a 02/nov)


O Santos FC, na luta por uma vaga na Taça Libertadores da América de 2008, já conta com o zagueiro Antônio Carlos, recuperado de uma cirurgia no joelho, realizada em maio, após uma contusão no jogo contra o Caracas, da Venezuela. Atualmente, ele treina com a equipe juvenil do clube e diz estar confiante para atuar nas próximas rodadas do Campeonato Brasileiro, afirmando estar à disposição do técnico Wanderley Luxemburgo.

A volta aos gramados, o jogador de 38 anos credita à própria força de vontade e ao departamento médico do clube, onde enfrentou intensos treinos físicos durante o período de tratamento, inclusive aos domingos.
O veterano futebolista já participou de testes de dividida, que avaliam a resistência real do atleta aos choques que enfrentará quando voltar às partidas oficiais.


O esquema com três zagueiros ajuda a superar a falta de ritmo?

Dependendo da equipe, o treinador muda. A maioria dos treinadores da Europa usa esse esquema. Eu acho que ajuda o Santos a ter mais entrosamento. Independente do esquema em que o time joga, o importante é levarmos em conta que há mais três jogos dentro de casa e precisamos fazer de tudo para vencê-los. A classificação para o próximo ano na Libertadores nós vamos conseguir com estes jogos.

Você atuará no Santos em 2008?

Eu estou vivendo a expectativa de voltar a jogar, então, prefiro curtir esse momento e ver se consigo participar de alguns jogos. Quero ver o que vai acontecer comigo até o final do ano. Agora, tendo a oportunidade de jogar, preciso ver como será meu rendimento.

Esta decisão depende da vaga para a Libertadores?

Antônio Carlos - Depende da vaga na Libertadores e depende do Santos também. Nós vamos conversar no final do ano. Por enquanto, tenho que recuperar-me e ver se consigo jogar.

Você pensa em integrar a comissão técnica de Wanderley Luxemburgo quando parar de jogar?

Se aparecer a oportunidade... fazer parte da comissão técnica é importante para adquirir uma maior experiência, até porque pretendo ser treinador no futuro. Mas o Wanderley tem dois ótimos auxiliares. Eu ainda não sei o que vou fazer no próximo ano.

Como você avalia a participação de veteranos nos grandes times brasileiros?

Eu acho normal. Na Europa é comum. Aqui no Brasil as pessoas vêem de uma maneira diferente. Quando o jogador passa dos 30 anos, para a maioria das pessoas, é considerado velho. No entanto, um jogador com 30 anos já adquiriu uma ótima experiência e, se ele se cuidou durante a vida, tem muito a dar ao futebol. A mescla de jogadores jovens e experientes é importante e ajuda bastante dentro do grupo.

Como é o relacionamento do treinador com os jogadores, antes e depois das partidas?

O Wanderley é um treinador que motiva muito, principalmente antes do jogo, durante a semana. A motivação ajuda para que se chegue concentrado à partida, seja no domingo ou na quarta-feira. Depois do jogo, é normal ele cumprimentar os jogadores pelo que fizeram em campo. Às vezes, dá uma dura quando o time perde, ou quando o time não joga aquilo que ele esperava. O trabalho do Wanderley, durante a semana e antes do jogo, tem uma porcentagem muito grande no rendimento de cada jogador dentro de campo.