com as fontes. O filme Intrigas de Estado (State of Play, EUA,
Inglaterra, 2009) analisa, por consequência, os dilemas e caminhos do
jornalismo no século XXI, que tem seguido a tendência de ser dominado
por corporações e, aumentado a perseguição pelo lucro em detrimento do
papel social. O diretor Kevin Macdonald (que já havia feito um
trabalho reflexivo com O Último Rei da Escócia) aborda aspectos
contemporâneos que estão mudando a forma de se fazer e de se comprar
notícias.
Russel Crowe, que faz o papel do jornalista Cal McAffrey, é
caracterizado como um jornalista veterano (outsider), que escreve
pouco e tem um custo alto para a empresa. Ele ao chegar à redação vê
uma placa sendo afixada embaixo do nome do jornal, que mostra a
aquisição do jornal pela 'MediaCorp' – um provável monopólio de
informações. O detalhe da cena é um dos aspectos que o filme vai
explorar durante o desenrolar, o domínio das corporações,
principalmente, a dos serviços de segurança, como a 'PointCorp'.
No longa metragem, a 'PointCorp' está sendo investigada por um
deputado americano, Ben Affleck no papel de Stephen Collins, que
desconfia das licitações do governo em relação a 14 diferentes
empresas de segurança, tanto dentro do país como nos serviços de apoio
ao exército americano no Iraque e Afeganistão. O deputado quer provar
que as empresas fazem parte de um único grupo que monopoliza os
serviços e têm forte influência política – semelhante à vida real, com
os tradicionais lobbies.
A atriz coadjuvante é a repórter iniciante Della Frye, interpretada
por Rachel McAdams, que atende aos objetivos do jornal, nas palavras
da editora Hellen Mirren (Cameron Lynne): escreve um artigo atrás do
outro; tem um custo baixo para o jornal e um blog no qual especula as
relações pessoais dos políticos.
Ao conversar com a editora, o veterano repórter se queixa do
computador antigo e diz que a edição impressa não vai muito bem, mas
que a versão online tem tido muito sucesso, mesmo que a Internet não
tenha conseguido adquirir credibilidade do impresso.
A história se desenvolve a partir da morte de uma funcionária do
congressista Collins que investigava a empresa de segurança e os
lobbies dela junto ao governo. Após a morte da secretária do deputado,
a mídia vai explorar a morte com o escândalo do envolvimento de
Collins com a funcionária. As lágrimas do deputado em frente às
câmeras servem como ponto de partida para as especulações midiáticas.
A hipótese inicial é que ela tenha cometido suícidio, porém McFrey e
Della Frye vão mais além do senso comum e passam a investigar outra
hipótese: Quem matou Sônia Baker? Na investigação o suspense se
desenvolve e revela uma cadeia de eventos relacionando políticos,
empresários e ex-militares.
A relação de amizade entre o jornalista e o deputado, que se
conheceram nos tempos da universidade é explorada no filme com a
questão: Até que ponto um amigo é inocente? Acreditando nesta
premissa, o repórter defende o congressista com ações questionáveis
por seus colegas e superiores da redação.
Além do dilema citado acima, o filme também propõe outros
questionamentos relevantes no qual o jornalismo é o ator principal.
Pode-se perceber uma pressão maior sobre repórteres e editores na
atualidade, provocada pelo surgimento da Internet e das inovações que
ela trouxe, como os blogs, o excesso de informação e a batalha para
informar o leitor a cada segundo.
A mistura de informação, interpretação, opinião e entretenimento é
abordada no filme. Provando que aquilo que pode ser bom para quem
escreve, muitas vezes se torna um labirinto para quem lê; obrigando o
leitor a confirmar informações e separar opiniões de notícias, sem ser
avisado.
Sutilmente, o longa questiona o caráter do jornalista ao apresentar
uma relação de amizade com toques de romance entre o repórter e a
mulher do deputado, Anne Collins, interpretado pela atriz Robin Wright
Penn. Em diversos momentos os amigos do repórter o questionam se as
perguntas que ele faz, não são do tipo que se faz para as fontes;
novamente se questiona a mistura entre amizade e relação profissional
Como uma história sempre leva a outra, e como um filme dedicado à arte
de informar não poderia deixar de fora, aquilo que é mais comum do que
parece: a virada de pauta ou, reviravolta no caso; e que muitas vezes
é um questionamento do próprio trabalho do repórter sobre a certeza
das informações que se apura, que às vezes leva a caminhos diferentes
do real.
O edifício Watergate faz referência ao famoso caso que derrubou o
presidente Nixon. Outras referências também vão levar à comparação com
Todos os homens do presidente. Principalmente quando os repórteres
McFrey e Della Frye vão em busca das fontes.
Intrigas de Estado se tornará um filme obrigatório nos cursos de
jornalismo. O motivo principal será mostrar que o que se aprende na
faculdade deverá ser complementado com o cotidiano e a experiência dos
'dinossauros' das redações. Também porque a ética é de fundamental
importância na profissão.
Embora os jornalistas não coloquem em risco a vida das pessoas, com
certeza as reputações estão em jogo, e há casos de pessoas que cometem
suicídio ao terem sua reputação abalada após a divulgação de uma
notícia.
Ele também vai demonstrar que, independente das adaptações a que são
obrigados os jornalistas, os princípios permanecem e dão credibilidade
ao jornalismo não importando o meio em que a mensagem é transmitida.
Como neste exemplo da tela grande.