4 de set. de 2009

Gabeira escreve na folha sobre a pirotecnia do pré-sal

Você diz alô, eu digo adeus

No momento em que o governo faz uma grande festa pelo pré-sal, a
revista "Foreign Policy" publica um número sobre o longo adeus do
petróleo.
É tão grande o impacto festivo que um prefeito de Pernambuco
perguntou: já posso contar este mês com o dinheiro do pré-sal?
Ao governo interessa desinformar -para isso tem um grande aparato. Mas
é fundamental nesse confronto fortalecer algumas teses. A primeira
delas é de que o recurso do óleo deveria ser usado para nos
libertarmos dele.
Parece simples. No entanto, pesquisas indicam que um terço dos
royalties são gastos por algumas cidades para aumentar a máquina
administrativa. Isso quer dizer dar mais empregos e aumentar o poder
dos grupos políticos locais.
Fala-se em usar a Noruega como modelo econômico de exploração. Mas
nada se fala no modelo de proteção ecológica de lá.
O interessante é que o Estado não combinou com os russos, e o modelo
talvez não seja atrativo para empresas. A Petrobras cuida de quase
tudo, drenando imensos recursos que poderiam se voltar para a energia
renovável.
O importante é que houve uma grande festa. Alguns, como Sarney, saíram
de sua pirâmide para celebrar; outros, como Dilma, de resguardo contra
perguntas delicadas, reapareceram protegidos. Já havia legislação e
toda uma história do petróleo no país. Mas a pressa em festejar parece
maior que a de pesquisar e contabilizar os recursos para saber o que
fazer com eles.
A diferença entre Obama e Lula em energia está no ministro que
escolheram. Lá é um Prêmio Nobel de Física; aqui é o Lobão, que
prepara uma nova estatal, para a alegria de netos, filhos e amantes.
Fazer um fogo e distribuir espelhinhos foi tática do poder desde a
chegada dos portugueses.
Caramuru.