8 de abr. de 2007

Impressionista com um toque intimista

Perto do Coração Selvagem tem todas as cores de um romance de impressões. Os críticos o classificam como intimista. A autora, hábil em mesclar as duas coisas, expressa sentimentos e estados interiores com maestria. A paisagem que a circunda se relaciona ao seu mundo como se do exterior partisse a significação das emoções e vice-versa.

Clarice Lispector tem a faculdade de conversar com o leitor dividindo com ele as sensações, sejam de alegrias ou tristezas. Ao se adentrar na leitura do livro passa-se a habitar o universo interior da autora. A conversa é tão íntima, (talvez daí a classificação intimista dos críticos), que não se consegue imaginar os personagens separados da própria autora.

A escritora passa a ser Joana, a personagem principal, que é a própria Clarice, nas diferentes fases da vida: infância, adolescência, no período que antecede o casamento, e no momento da separação. Mas o foco de sua obra é o estado interior. O roteiro é apenas uma conveniência, e, realmente, a gente quer sempre saber o roteiro para tirar nossas conclusões internas ou para julgarmos se vale a leitura. Clarice vai no cerne da questão, ela faz com que o roteiro ocupe um papel secundário e, os sentimentos, o que se passa dentro de cada um de nós, e que faz com que tomamos nossas decisões, ocupe o papel principal.

Por expressar o seu íntimo o livro toma outra dimensão. Ela afirma dentro do próprio romance, na voz da personagem, que aquilo que sente não consegue expressar com palavras. Mas quando transforma em palavras, as palavras se transformam no que está sentindo.

Há uma controvérsia, surgida a partir do lançamento do romance, de que ela foi influenciada por James Joyce e Virginia Woolf contudo, Perto do Coração Selvagem, seu primeiro livro, escrito quando ela tinha pouco mais de 20 anos, está no mesmo nível da obra dos outros autores impressionista e com um toque intimista.

Não estranhe se durante a leitura do romance você se sinta como os personagens do livro e depois passe a ver o mundo com mais atenção aos seus sentimentos interiores, semelhante ao que disse uma atriz sobre a influência do personagem no ator, em que adquiria uma forma de ver, pensar e sentir muito próxima do papel que representava.