Como no mito de Sísifo,o último assunto é sempre o próximo a ser tratado pelos jornalistas. Conjunto de reportagens, entrevistas e textos afins.
28 de abr. de 2007
Cidadania em pauta
Organizar uma Agenda 21 e criar um centro de estudos e promoção da cidadania são os principais objetivos do Fórum da Cidadania para este ano. O cordenador geral, Célio Nori, quer debater o tema junto à Prefeitura e às entidades da sociedade civil. ( primeiro parágrafo da matéria publicada hoje no jornal online da Unisanta, para ler a matéria completa clique aqui)
24 de abr. de 2007
Tchecov reflete o ofício do escritor através de seu personagem
Tchecov en teatro (La Gaviota) págs 32 a 34
17 de abr. de 2007
Lucina, Zélia Duncan e Shakespeare
As an unperfect actor on the stage / Who with his fear is put besides his part, /Or some fierce thing replete with too much rage, / Whose strength's abundance weakens his own heart. /So I, for fear of trust, forget to say /The perfect ceremony of love's rite, / And in mine own love's strength seem to decay, / O'ercharged with burden of mine own love's might. /O, let my books be then the eloquence / And dumb presagers of my speaking breast, / Who plead for love and look for recompense / More than that tongue that more hath more express'd. / O, learn to read what silent love hath writ: / To hear with eyes belongs to love's fine wit.
( Soneto XXIII ao som de Coração na boca)
15 de abr. de 2007
Técnicas de rejuvenescimento
Na sala de um apartamento, a tv transmite o noticiário da noite. Diante da televisão, um jovem folheia a revista e pensa na namorada, que está na faculdade assistindo a aula sobre o idioma universal que se consolidou com a globalização e o avanço da internet.
Triiiimmm! triiiimmm! O celular toca no meio da aula. Todos olham. Ela se retira da sala para atender.
- Alô
- Oi Jéssica, sou eu, Renato.
- Oi R-e-n-a-t-o. Precisava me ligar no meio da aula? Faltam dez minutos para o intervalo.
- Desculpe, é que acabo de ouvir uma notícia na tv sobre um estudioso que virá ao Brasil expor uma nova filosofia de vida com base nas descobertas da ciência em que as pessoas vão poder viver o tempo que quiserem, não vão envelhecer, nem engordar e permanecerão com aparência de jovens.
- Renato, você tá louco?! Onde já se viu isso?
- Mas Jéssica, acabou de passar na tv. E outro dia vi uma foto dele na revista, estava com aparência de vinte e poucos anos, e ele tem mais de quarenta.
- Sério? E por que ele vem ao Brasil?
- Parece que o Brasil é o país que reúne as condições ideais para a implantação da sua filosofia.
- Condições ideais?! Sei. E quais são essas tais condições?
- Clima, praias, academias, pessoas que praticam esporte e se preocupam com a boa forma, alimentação. Ele afirmou que o Brasil já pratica em parte o seu método.
- Não sei não. Essa história está muito estranha.
-Mas se passou no jornal ?
- Se ele diz que a gente já pratica, não precisa de um filósofo que venha nos ensinar.
- É que ele vai trazer o elixir de rejuvenescimento feito com cartilagem de tubarão.
- Ah! Agora tem mais essa! O cara inventa uma fórmula, mata tubarões, e quer vender pra gente. Renato, acorda! Tô no meio da aula, tenho que checar meus e-mails e você me vem com essa história de filósofo.
- Desculpe amorzinho, é que você sempre sabe das novidades. Dessa vez queria te surpreender.
- Mas não com essa de filósofo e tubarão. Deixa eu voltar pra aula e quando eu sair da facu te ligo, tchau.
Jéssica volta pra sala e a aula havia acabado. Então ela atravessa os corredores e se dirige a sala de computadores para checar seus e-mails. Ao abrir sua caixa de mensagens com boletins do noticiário internacional, descobre: "Cientistas desenvolvem técnica de rejuvenescimento com cartilagem de tubarão".
-x-x-x-
Escrevi esta crônica em 2003, que foi publicada no Em Foco, o jornal laboratório da Firb. A idéia inicial era criticar os celulares que viviam tocando durante as aulas. A crônica acabou indo por outro caminho e os celulares ficaram em segundo plano. C'est la vie. Hoje, a gente já se acostumou com este hábito de atender telefone no meio da aula, mas alguns ainda continuam com aquelas campainhas infames que tiram a concentração de qualquer um. Hélas
11 de abr. de 2007
Pensamento, demasiado humano
10 de abr. de 2007
O Caminho de San Giovanni
Mas o que movia meu pai a cada manhã pelo caminho de San Giovanni acima – e a mim abaixo pelo meu caminho –, mais que o dever de proprietário laborioso, ou o desprendimento de inovador de métodos agrícolas – e o que movia a mim, mais que as definições daqueles deveres que aos poucos iria me impor --, era paixão feroz, dor de existir – o que mais podia nos impelir, ele a subir pragais e bosques, eu a me entranhar num labirinto de muros e papéis escritos? Confronto desesperado com o que resta fora de nós, desperdício de si em oposição ao desperdício geral do mundo.) Ítalo Calvino em O Caminho de San Giovanni -- pág. 76
8 de abr. de 2007
Impressionista com um toque intimista
Clarice Lispector tem a faculdade de conversar com o leitor dividindo com ele as sensações, sejam de alegrias ou tristezas. Ao se adentrar na leitura do livro passa-se a habitar o universo interior da autora. A conversa é tão íntima, (talvez daí a classificação intimista dos críticos), que não se consegue imaginar os personagens separados da própria autora.
A escritora passa a ser Joana, a personagem principal, que é a própria Clarice, nas diferentes fases da vida: infância, adolescência, no período que antecede o casamento, e no momento da separação. Mas o foco de sua obra é o estado interior. O roteiro é apenas uma conveniência, e, realmente, a gente quer sempre saber o roteiro para tirar nossas conclusões internas ou para julgarmos se vale a leitura. Clarice vai no cerne da questão, ela faz com que o roteiro ocupe um papel secundário e, os sentimentos, o que se passa dentro de cada um de nós, e que faz com que tomamos nossas decisões, ocupe o papel principal.
Por expressar o seu íntimo o livro toma outra dimensão. Ela afirma dentro do próprio romance, na voz da personagem, que aquilo que sente não consegue expressar com palavras. Mas quando transforma em palavras, as palavras se transformam no que está sentindo.
Há uma controvérsia, surgida a partir do lançamento do romance, de que ela foi influenciada por James Joyce e Virginia Woolf contudo, Perto do Coração Selvagem, seu primeiro livro, escrito quando ela tinha pouco mais de 20 anos, está no mesmo nível da obra dos outros autores impressionista e com um toque intimista.
Não estranhe se durante a leitura do romance você se sinta como os personagens do livro e depois passe a ver o mundo com mais atenção aos seus sentimentos interiores, semelhante ao que disse uma atriz sobre a influência do personagem no ator, em que adquiria uma forma de ver, pensar e sentir muito próxima do papel que representava.
7 de abr. de 2007
Desejo de Poesia
"A dor cansada numa lágrima simplificada.
"Se eu me visse na terra lá das estrelas ficaria só de mim.
"Um simples olhar surpreso esgotaria todos os fatos
"Havia um meio de ter as coisas sem que as coisas a possuíssem
"A chuva e as estrelas, essa mistura fria e densa me acordou, abriu as portas do meu bosque verde e sombrio, desse bosque com cheiro de abismo. Onde corre água. E uniu-o à noite.
"A palavra estala entre meus dentes em estilhaços frágeis
"Mas o sonho é mais completo que a realidade, esta me afoga na inconsciência
"Palavras muito puras, gotas de cristal. Sinto a forma brilhante e úmida debatendo-se dentro de mim.
"Vagarosamente entristeceu de uma tristeza insuficiente e por isso duplamente triste
"Inútil seguir por outros caminhos, quando para um só seus passos a guiavam.
"Porque os últimos cubos de gelo haviam-se derretido e agora ela era tristemente uma mulher feliz
"Sons como setas grossas, cravando-se nos móveis, nas paredes, nela própria maciamente
"Erguia-se pura uma nova manhã, docemente viva. E sua felicidade era pura como o reflexo do sol na água. Cada acontecimento vibrava em seu corpo como pequenas agulhas de cristal que se espedaçassem
"Eu toda nado, flutuo, atravesso o que existe com os nervos, nada sou senão um desejo, a raiva, a vaguidão, impalpável como a energia.
"Gosto, mas eu nunca sei o que fazer das pessoas ou das coisas de que eu gosto, elas chegam a me pesar, desde pequena
"Há uma substância assustada e leve no ar, eu consegui obtê-la, é como o instante que precede o choro de uma criança
"Eu mesma posso morrer de sede diante de mim. A solidão está misturada à minha essência.
"Há certo instante na alegria de poder que ultrapassa o próprio medo da morte.
"Era inútil abrigar-se na dor de cada caso, revoltar-se contra os acontecimentos, porque os fatos eram apenas um rasgão no vestido, de novo a seta muda indicando o fundo das coisas, um rio que seca e deixa ver o leito nu."
Pequenos trechos do livro Perto do Coração Selvagem de Clarice Lispector.