6 de jul. de 2008

Ipods carregam o vazio poético da geração atual

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
No Sábado à noite, ao ouvir Boas Novas do Cazuza, pensei que a geração atual está precisando de um poeta. Acho que o excesso de informação acabou deixando um vazio para meninos e meninas. Por mais que os jogos, as comunidades virtuais, os msns e as parafernálias de última geração tenha permitido a extrema individualização de cada um.

Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Um poeta, aquele que vê e transforma em palavras, carregadas de sentimentos, todos os anseios de uma geração não existe neste momento. Cazuza era mestre nessa sinceridade. Chegou a ter uma canção na abertura de uma novela em que denunciava: "Brasil mostra tua cara, quero ver quem paga pra gente ficar assim / Brasil, qual é o seu negócio, o nome do seu sócio confie em mim, confie em mim".

Todo o Mundo é composto de mudança
As palavras na voz dele transmitiam um sentimento difícil de reproduzir na letra impressa, mas os que ouviram se lembrarão com facilidade do tom de indignação do cantor.

Tomando sempre novas qualidades.
Cazuza foi o retrato de sua geração. Era sincero no discurso, mas não agia no dia-a-dia. Não o culpo, o primeiro papel do artista mostrar as aguras da sociedade, e, se possível agir de alguma forma. Ele fazia da crítica uma mea culpa.

Continuamente vemos novidades,
Cazuza estava por demais envolvido no meio, que também o abraçava como representante e mediador. O garoto que queria mudar o mundo, mas que num arroubo de sinceridade confessava freqüentar as festas do Gran Mondeo.

Diferentes em tudo da esperança;
Ele almejava uma também uma ideologia para viver. As teorias políticas e econômicas, daquele tempo, já não o enganavam mais. Continuava tudo igual, novas palavras repetindo velhos paradigmas. No amor, as oscilações da geração se refletiam nas canções, de Exagerado a Faz Parte do Meu Show.

Do mal ficam as mágoas na lembrança,
Contudo a canção que mais me impressiona é Um Trem Para As Estrelas, letra do poeta e melodia de Gilberto Gil. O Cristo na janela, as pessoas nos pontos de ônibus, as esperança, extras de um filme, cicerones, todos querem se dar bem, manchetes de jornal, tristeza como forma de se salvar. A canção é o retrato mais pungente da realidade.

E do bem (se algum houve...) as saudades.
Os críticos vão lembrar do menino mimado das festas, das drogas e dos abusos. Mas ele tinha essa visão de inconformismo, e, infelizmente a insatisfação acabou o levando aos excessos... Da mesma forma, aquela geração também estava insatisfeita, mas a insatisfação não foi suficiente a sociedade a tragou permitindo os mesmos excessos e oferecendo o doce sabor da classe média.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Naquele tempo, os ambientalistas já existiam, e eram os mais ativos, mas o meio ambiente não assombrava como hoje. Os discursos soavam como pregar no deserto. Poucas ações foram feitas. A campanha contra a poluição do rio Tietê foi a mais produtiva. E, de qualquer forma demorou-se para chegar a resultados concretos.

Que já coberto foi de neve fria,
Eu passei de soslaio por aquela geração, foi uma época em que lia as crônicas do Caio Fernando Abreu no jornal conservador e me informava acompanhando a revista liberal da classe média. No jornal também havia um cronista que falava maravilhas de Nova York. Gostaria de ter assistido Manhatan Connection naqueles anos, nem sei se havia. Mas no domingo as crônicas do velhinho de óculos com lentes grossa eram uma diversão à parte.

E em mim converte em choro o doce canto.
Até quando repetia o chavão de: No meu tempo, um amigo mais velho repetia: O seu tempo é hoje. E depois do filme do Paulinho da Viola, se o próprio compositor diz a mesma frase. Me rendo à contemporaneidade.

E, afora este mudar-se cada dia,
Mas, mesmo com todos os conjuntos e canções, inclusive o rap, hip-hop e outras manifestações do gênero. Não existe o poeta, que como Vinícius representava em seu tempo a geração. Vamos acrescentar o Tom aqui para dar equilíbrio à época.

Outra mudança faz de mor espanto:
O que há atualmente é música de tribo, ou de gueto como preferir que representam segmentos da sociedade. Ipods e Mp3, que são a última tecnologia na música, podem estar carregados de canções mas levam também o vazio poético desta geração.
Que não se muda já como soía.


São 7 horas da manhã
Vejo Cristo da janela
O sol já apagou sua luz
E o povo lá embaixo espera
Nas filas dos pontos de ônibus
Procurando aonde ir
São todos seus cicerones
Correm pra não desistir
Dos seus salários de fome
É a esperança que eles tem
Neste filme como extras
Todos querem se dar bem

Num trem pras estrelas
Depois dos navios negreiros
Outras correntezas

Estranho o teu Cristo, Rio
Que olha tão longe, além
Com os braços sempre abertos
Mas sem protejer ninguém
Eu vou forrar as paredes
Do meu quarto de miséria
Com manchetes de jornal

Pra ver que não é nada sério
Eu vou dar o meu desprezo
Pra você que me ensinou
Que a tristeza é uma maneira
Da gente se salvar depois

Num trem pras estrelas
Depois dos navios negreiros
Outras correntezas


Para saber mais