11 de jul. de 2008

Idéias para um ensaio

A ironia de Nabokov é muito semelhante à de Machado de Assis, todavia prefiro aquele por ter mais riquezas descritivas e por querer causar um maior estranhamento no leitor.

Os dois, provavelmente, beberam na fonte dos escritores franceses. Machado traduziu Victor Hugo, entre outros. O autor russo deve ter lido, durante seus anos de formação intelectual, muitos autores franceses.

Interessante que os dois, por conviverem com as descrições minuciosas e às vezes exaustivas do romantismo francês, tentaram cortar este aspecto em suas narrativas. Derivando como corolário para o naturalismo, realismo e modernismo (modernismo não se encaixa bem, há controvérsias, melhor usar pós-romantismo).

Como Machado sofreu a discriminação brasileira e de sua época, acabou fazendo uma literatura mais comportada, retratando o período e a sociedade, caracterizando a fina ironia. Nabokov, até pela vida que teve, foi mais radical. Devido aos altos e baixos (isso quer dizer o exílio na Inglaterra e a fuga de Berlim passando por Paris e indo viver nos Estados Unidos) começou a encarar a vida como um desafio e com certa altivez diante do mundo e das pessoas que a rodeiam. As descrições dos professores das universidades americanas em 'Pnin' podem comprovar o que digo.

Enquanto Machado fazia uma literatura para pertencer à sociedade, embora a ironizando. Nabokov sentia como um sacrifício pertencer a um ambiente alheia às origens. (Não havia jogadores de xadrez como os russos da família aristocrática a que pertencia, nem as festas, nem os mesmos assuntos. Devia ser maçante conversar sobre corridas de cavalo, bolsas de apostas, ações e negócios lucrativos).
 
Não há dúvida que os dois ganharam reconhecimento internacional. Machado tem o mérito de ter aprendido muita coisa quando trabalhava de ajudante numa oficina tipográfica. O que vai dar no famoso perfil do brasileiro: se você me der oportunidade eu vou longe, ou ele faz sucesso porque foi ajudado. A História tem muitos relatos do tipo, caracterizando, e muito, a mentalidade de colônia. E até egoísta da nossa sociedade. Isso me irrita.

Com Nabokov acontece o oposto, e é uma pena não conhecer a sociedade russa, mas pode se ver que a má administração, aliás a Rússia é mestra nesta arte, derivou nas revoluções, derrocada e exílio da realeza e da aristocracia. Comprovando que por caminhos diferentes pode-se chegar ao mesmo lugar.

Vale lembrar que não quero exaltar uma cultura em relação à outra. Pindorama tem condições de estar à altura de qualquer um dos outros países famosos por sua cultura. Com um pouquinho de solidariedade e inteligência a gente superava nossos vizinhos do Norte. Talvez a coisa funcione por imitação, nossos vizinhos procuram imitar a Inglaterra e nós continuamos atrasados imitando Portugal e Espanha. A Rússia, por sua vez tinha uma cultura própria, graças ao Vladimir, e não precisou imitar ninguém. Todavia caiu na auto-exaltação. Costume muito comum nos impérios.

Ao leitor que chegou até aqui peço desculpas por ter me estendido, todavia você acaba de ter acesso a, digamos, noventa por cento do ensaio. Só preciso descartar alguns pensamentos paralelos e desenvolver as idéias iniciais, pesquisar mais um pouco e formatar. Sem contar que as idéias também darão outros ensaios. Agradecimentos ao Victor Hugo, à Adele e à Juliete Drouet.