( A seguinte reportagem foi publicada no jornal Online da Unisanta durante o Intercom)
A Aliança Internacional (J-Aliança) dos jornalistas promoveu um debate sobre responsabilidade da mídia com professores universitários, jornalistas brasileiros e estrangeiros, representantes da sociedade civil e estudantes, nesta sexta-feira, na Unimonte. A questão abrangeu diversos assuntos, como a concentração da imprensa em poucos grupos, a fragmentação da comunicação pela Internet e a necessidade da sociedade civil apresentar sua opinião e ser representada nos veículos de comunicação. Debateu-se também a imprensa alternativa, as rádios comunitárias e a Internet como meio aglutinador de todos os canais.
A professora Cicília Peruzzo, da Metodista, disse que para se chegar a práticas de comunicação cidadã, é preciso começar melhorando a qualidade da mídia. Ela explicou que a mídia presta serviços à sociedade, dentro de uma lógica que gera contradições. "Há falhas no sistema jurídico, como incriminar rádios comunitárias, apesar do serviço social que elas prestam".
Citando Claude-Jean Bertrand, especialista em ética, Cicília disse que é "preciso criar sistemas de responsabilização da mídia". Ela usou como exemplos os conselhos de ética e de imprensa, bem como algumas ONGs, que são experiências de mecanismos que funcionam.
Cicilia lembrou, também, da campanha Ética na TV, que classificou programas de baixo nível, como o Tardes Quentes, apresentado por João Kleber, e moveu ações contra o programa Domingo Legal, por veicular falsas entrevistas com supostos integrantes de uma facção criminosa.
A questão das mídias alternativas também foi abordada por Cicília Peruzzo, que falou da rádio comunitária Heliópolis, do site Overmundo e de grupos como a Central Única das Favelas e o Nós do Morro. "Centenas de experiências criam a possibilidade de uma outra comunicação, de um outro nível de comunicação", afirmou.
A jornalista Sílvia Costa, representante do jornal A Tribuna, citou os meios que o leitor pode usar, como: Jornal Escola e Comunidade, Agenda Cidadã, Plantão AT, Carta ao Leitor e Tribuna livre. Sílvia disse que os canais para a sociedade se manifestar no jornal são abertos, mas que poucos se utilizam deles. Ela acredita que é preciso dar poder ao leitor para que ele possa exercer seu papel de cidadão.
Para a jornalista Ísis de Palma, responsável pela Aliança Internacional de Jornalistas (J-Aliança) no Brasil, "a participação da sociedade é uma necessidade imensa". Ísis citou números da concentração da mídia no Brasil: 686 veículos e 286 emissoras estão concentradas em seis redes de TV do Brasil. Somente 35 emissoras escapam das grandes redes por pertencerem à rede pública de TV.
Ísis também citou o controle da informação por quatro agências internacionais. De acordo com a jornalista, a responsabilidade é proporcional ao poder e ao conhecimento. E citou o escritor Eduardo Galeano, ao afirmar que quando se diz que a responsabilidade é de todos, ela não é de ninguém. "Existe a necessidade de se assumir responsabilidades compartilhadas para sair da imobilização".
Antonio Martins, representante do jornal Le Monde Diplomatique – Brasil, explicou que, atualmente, há uma crise tanto na democracia como nos meios de comunicação.
O professor de Ética Helder Marques, da UNISANTA, lembrou que está havendo um enxugamento das redações, e, por outro lado, o crescimento do número de jornalistas nas assessorias dos órgãos governamentais. De acordo com Marques, há o risco da máquina pública ser usada em benefício dos candidatos que ocupam cargos nos governos.
No início do debate foi feita uma uma homenagem à jornalista e professora Ivanéa Pastorelli, falecida recentemente. O mediador, jornalista Alessandro Atanes, fez uma breve apresentação da carreira da professora e citou um trecho do poema Memória, de Carlos Drummond de Andrade.